COLUNA ” PAPO DE MÚSICO”… O MÚSICO É TENTADO NO DESERTO

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nilson
Tendo nossa boa música popular falecido, em termos de público e divulgação, as mais bizarras figuras e fantoches aproveitam-se do título de “artistas” e seguem em seu triste cortejo. Desnecessário nomeá-los; eles já têm fama demais e suas estampas estão nos outdoors das cidades, comprovando enfileirados que desgraça pouca é bobagem. Não são culpados por existirem, produtos que são da mídia gananciosa. Ela sim, em conluio com seus produtores blindados à crítica, emplaca qualquer meliante que ao ser enquadrado por assalto à mão armada diante das câmeras, aproveita-se da ocasião para cantar uma música autoral e bombar nas paradas do país do improvável.
Colocar o músico como causa mortis no atestado de óbito, inclusive a mim mesmo, é tristemente doloroso, porém real. Afinal, o músico é a fonte.

Se o músico, aquele que tem formação, acadêmica ou nata, experiência e sensibilidade, se rende à sandice por “50 reais”, então a estupidez está vencendo a guerra e o poste mijando no cachorro. Só nos resta o conforto de saber que alguns ainda resistem, mesmo que para isso abram mão da profissão ou de um público que os remunerem adequadamente.
Segue a encorajadora paródia que há um ano escrevi sobre um Músico Verdadeiro, um “Dom Quixote de nuestro desierto”, determinado e valente, exemplo a ser seguido em todos sentidos, que foi tentado, prestes a morrer de fome:
– Naquele tempo, no nosso tempo, foi conduzido o Músico ao deserto, seco e sem vida de talentos, porém repleto de ídolos e celebridades, para ser tentado pelo di… pelo Produtor musical. E tendo ouvido 40 dias e 40 noites de sucessos de rádio e TV, funk e sofrência sertaneja, teve fome. E, chegando- se a ele o Produtor, disse: “Se tu de Deus recebeste teu talento, manda que estes sucessos de 4 acordes se transformem em boa música.” Ele porém, respondendo disse: “Nem só de parvoíce vive o Músico, mas de todo som que provém da inspiração que me deu o Pai!”.
Então o Produtor o transportou à cidade do Sucesso Fácil, colocou-o sobre o palco mais suntuoso do templo da bizarrice e disse-lhe: “Se tu de Deus recebeste teu talento, lança tua carreira pop daqui, componha usando as claves de nádegas e bíceps, espete os cabelos e esprema-se em calças de infante, porque está escrito: que aos fãs dará ordens de teu respeito, e tomar-te-ão nos braços, mesmo que teus dedos tropecem em simples acordes de tríade.” Disse-lhe o Músico: “Está escrito: – Não tentarás ao Senhor que te deu o dom da Arte com tchere-tchê-tchês e bará-berês.”
Então novamente transportou-o a um palco ainda mais alto, o Topo das Paradas, mostrou-lhe todos os sucessos do mundo e o dinheiro que vinha deles. E disse-lhe: “Tudo isso te darei se, prostado, cantar e compor sandices para o gosto popular!” Então disse-lhe o Músico: “Rapa fora, Zé Ruela!!!… Porque está escrito na pauta da verdadeira música: – Se ao Deus que te inspirou deves graças, a Ele servirás, levando, com teu talento, coisas boas e sublimes ao ouvido do irmão!” Então o diab… o Produtor, o deixou, e eis que chegaram os poucos porém verdadeiros fãs de sua boa música para ouvi-lo.

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