COLUNA “PAPO DE MÚSICO” … QUAL É O TOM?

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nilson

Para achar o tom não se observa mais a ordem dos sustenidos ou bemóis na clave, e sim a quantidade de latas de cerveja vendidas. Em nossos tempos, a tradição não diz ou sequer nos sugere o que fazer. Parece ser natural, uma vez que cada um faz o que bem entende, esquecendo que somos escravos de nossas escolhas mais do que de um suposto destino. E também parece não ser um problema; mas estando nós desprovidos de referências e de valores há bem pouco considerados reais e regras do bom convívio, ficamos isolados de qualquer espiritualidade autêntica, e o melhor valor do indivíduo então passa a ser medido pelo seu poder de compra ou de dízimo.

A cultura tradicional dos povos nos atravanca e embaraça, e nos vemos obrigados a jogá-la fora como a um guarda chuvas num dia de sol, porque causa estranheza. Se eu coloco no carro um CD do Zico & Zeca (os primeiros artistas do país a usarem um avião particular como transporte), espanto a família e o carona! mesmo tendo eles invejáveis genética e vivência caipira maior do que a minha.

O indivíduo deixa de ter sua própria memória, seus próprios gostos, para absorver uma memória coletiva, cheia de clichês e prejulgamentos. Assim, PREconceito é não seguir a isso. É aí que a falta de educação e os maus modos chegam como moda perfeitamente aceita, fazendo contraponto à caretice do “ser gentil”.

Basta observar que nossa música de massa hoje tem como tema principal o Ter (grana, boa forma, status) em demérito do Ser (criativo, culto, humilde). O músico, devido às insanidades gravadas, executadas e consumidas às toneladas, é assim enormemente prejudicado, ficando a sua aflorada sensibilidade de artista enfraquecida e deprimida. Em um país de tantos talentos, as nossas muitas culturas estão sendo esmagadas, como lindos ovos de páscoa decorados com esmero, mas que depois de ensacados são amassados pelos ferozes empacotadores de cérebros que querem reduzi-los a um mínimo de espaço.

O músico, o operário da arte, quando não se rende ao que a mídia lhe impõe, dá soltura a um Barrabás rebolante e cantante do que é de fácil aceitação. Ignora-se assim o valor dos músicos e dos artistas que estudam e dedicam-se ao seu instrumento. A resistência do artista persevera apenas porque a viola fala alto em nosso peito. O absurdo hoje é a moda jamais contestada, mesmo quando carros de som, shows e músicas de festas tenham como atração um sujeito (ou dois fantoches travestidos de cowboy) “cantando” bravatas, insultos, tatibitates e mensagens grosseiras de apologia ao hedonismo, à bebedeira, ao sexo rasteiro e à ostentação de pobre.

Estando o caboclo com uma lata de cerveja na mão, visivelmente chapado, qualquer tema bordão como: “senta-senta, deita-deita, agacha-agacha, toma-toma!”, tá de boa. Basta mais volume de som, de gente, de carros e de banheiros químicos pra toda cidade reivindicar o título de “O melhor carnaval, melhor festa ou melhor rodeio da região!”. E o músico, se não cair matando de DJ, dublê de palco, sarar o bíceps e o glúteo, tá de fora da festa e deste rendoso mercado.

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