“- A gata endoidou! Impinim mim, impinim mim!”. “- Eu vim acabar com sua vidinha de balada e dar outro gosto pra sua boca de ressaca…” – Gente do céu! Que se sucede??? perguntei num fim de noite a um amigo, enquanto recolhíamos os instrumentos e o som, cansado e sonhando com minha cama quente, e coisas estridentes e semitonadas desse naipe bombardeavam minha cabeça que já doía. – São sucessos da música sertaneja! Tá bombando! Nunca ouviu??? – Sucessos?? mas é muuuuito ruim! – Ah! Pra tonto tá bom… – De jeito nenhum! respondi. Exijo mais respeito para com meus parentes cachaceiros! Isso é a trilha sonora dos umbrais do inferno! Passada a indignação, reflito que é muito triste e deprimente testemunhar a Música perdendo, ou talvez deixando de lado propositalmente pra ser mais aceita sem gozo e esforço, a sua beleza e dignidade. Mas fazer o quê, além de lamentar e vez ou outra ser obrigado a tocar ou cantar essas sandices populares? Muito pouco. Como parece não haver mais como nadar contra a correnteza, todo músico que opta por seguir seu estilo e desencilhar-se da vulgaridade que assolou o ramo, procura seu pequeno espaço, encaixando-se entre seu público já conquistado ou entre uns e outros que lhe dão ouvidos à voz. Um Dom Quixote catando aqui e ali um canto pra tocar o que considera ser música, e que ainda caiba em algum tipo de ambiente. O lado financeiro é lógico que fica comprometido. Eu, já há um tempo, deixei de trabalhar em um restaurante por exigência da gerência de que ajustasse o repertório para o “novo sertanejo”… afim de passar durante o jantar mais “alegria e entusiasmo” aos hóspedes… como se fossem todos requebrarem-se alegremente com pratos na mão. Coloquei a viola no saco e respondi atá. Pior do que ver a multidão (que diz gostar de música!!!) aceitar essa derrocada, é a cada dia que passa presenciar a chegada de mais e mais novos astros, divas e beldades cantando com nádegas e bíceps, em super produções, regidos por maestros de potencial fantástico, e seus temas de pura asneira… Como é o caso das desilusões amorosas das novíssimas duplas femininas que adotam como hino e filosofia de vida pagar a conta pro marido sair com a amante… ou o acordão onde ela entra com o pé e ele entra com a bunda. Isso, aliás, não deixa de ser um bom tema! muito na história da poesia musicada fala dessas desventuras, em todos os estilos e gêneros… porém a ser explorado por um compositor e letrista do ramo, e não por qualquer pangaré. Vivemos na música dias de luto e desonra, e não Dias de Luta e Glória como cantava Charlie Brown Jr. Snif!