COLUNA TEMPO & PALAVRA “VEM CHEGANDO O CARNAVAL”

em Cidade/Destaques por

Antonio Carlos de Albuquerque

Em Carandaí, minha terra natal, o carnaval sempre foi uma festa animada. Bons músicos locais. Bailes até às sete da manhã. Frequentei o Clube Reis, do senhor Vigário. O Clube do Porroca. Garças – do qual sou sócio proprietário.

Participei de um momento diferente, muito bonito, aliás. O desfile das escolas de samba. Três escolas espetaculares. Mas durou pouco, infelizmente.

De longe, li com simpatia a nota da criação do Bloco Bandeira Branca com o pretenso objetivo de resgatar as marchinhas, serpentinas e confetes. David Nasser na sua marchinha tem um verso lindíssimo: “Confete pedacinho colorido de saudade, ai, ai, ai, ai, ao te ver na fantasia que usei confete, confesso que chorei”. E como essa, poderia relembrar várias.

Como relata Roberto Da Matta, o carnaval no Brasil, é momento de canto e não de discurso. Trocar a roupa do trabalho pela da fantasia. Do rigor dos impostos e da ordem mentirosa de governos gananciosos, pelo movimento.

Por tudo isso, o carnaval é a possibilidade utópica de mudar de lugar, de trocar de posição em direção à alegria, à abundância.

Em passado recente, indo ao Rio de Janeiro, fui assistir com minha filha um lindo musical: Sassaricando. A pesquisa para o espetáculo elencou as melhores marchinhas que foram apresentadas em carnavais passados, por natureza temática: assim, as que falavam da mulher do leiteiro, do pedreiro Waldemar, da turma do funil, etc. Ao final com o palco iluminado pelo tom azul, repleto pelos artistas do espetáculo ressoa a marcha-rancho: Bandeira Branca. E o público se levantou e cantou junto com emoção. Eu mesmo, levado por toda a atmosfera do espetáculo, não aguentei a cantar porque chorei no ombro da minha filha, que ficou assustada.

A ela dei a explicação da minha emoção. Agora, ao leitor. O quer dizer bandeira branca? O grande letrista Max Nunes, que escreveu o programa Balança mais num cai, é o autor da marcha. Só nós os brasileiros temos e falamos de saudade. Essa palavra no francês vem com o verbo manquer, que quer dizer faltar. Faltar alguma coisa.

Para nós tem um sentido mais amplo e profundo. Saudade é o amor que ficou em nós. Saudade é mal de amor, de fato. Nesse momento, sendo idoso, tenho saudade até do lança-perfume que adquiria, da alegria contagiante no salão. E daquela moça, tão

bonita, que veio passar as férias na nossa terra e na quarta-feira foi embora e me deixou só.

Por isso, Bloco Bandeira Branca recrie o clima da alegria sadia, da poesia das marchinhas! É hora de dar alegria a jardineira. O que foi que te aconteceu?

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