Quem matou a música brasileira? (Eu sei quem fui…) Já há algum tempo a música popular dava sinais de sua doença. Sertanejo, rock e axé music mal cantados brotavam e foram aceitos como novidades. O músico colocava de 5 a 10 desses sucessos no repertório e sentia que eram trunfos fáceis para serem usados no clímax da apresentação ou até mesmo para ‘salvá-la’.
Dois acordes em besteiróis, paródias, descompromisso com o lado musical…e estava o show garantido. Aos poucos, o que era feito sem pretensões maiores, por humor ou relaxamento, ganhou o lugar da Música arte, usando da atraente Lei do Menor Esforço. Menor esforço para ser feito, ser aceito e ser descartado também.
Os atalhos são atraentes, mas nunca foram caminhos verdadeiros, seguros e garantidos. E a música mergulhou de ponta cabeça por ele. Em menos de 5 anos o samba foi ‘sertanejalizado’, o rock foi desvirtuado, o sertanejo urbanizado e o funk marginalizado. A crítica calou-se, em conluio com o oportunismo que transformou música em mercadoria com ótimo preço e curta data de validade.
Dos estilos musicais restaram apenas os rótulos; e ainda há quem diga que nada precisa ser rotulado… como se fossemos adivinhar o conteúdo de uma garrafa pela sua cor ou peso. Quem tocou na noite nesta fatídica época de mudança, percebeu; mas rendeu-se à corrente, do contrário não teria público e espaço.
Assim, eu mesmo, aos poucos fui montando repertórios e bandas cada vez mais populares e menos trabalhadas. Como músico, toquei em bandas de shows e bailes, torcendo pra chegar o momento ‘light’, onde encaixávamos as músicas melhores, os sucessos eternos e aquilo que a música tinha de ‘sagrado’. Mas esses momentos tornaram-se raros, até desaparecerem… Hermeto Pascoal fala que o artista é a fonte; se ele não tocar música ruim, o povo não terá de onde bebê-la; portanto, cada profissional da música popular é diretamente responsável pelo fim do bom gosto e da aberração que a MPB foi transformada.
Mas, conforta-nos saber que os artistas ‘consagrados’, em sua maioria, não são músicos, e sim cantores com um mínimo de talento necessário para serem lapidados pela indústria do sucesso. Os sucessos, não diferente de qualquer tempo, são trabalhados e produzidos; porém, atualmente estão sem critérios de valores. Tendo bom produtor, qualquer trova, por mais tosca que seja, vira letra de música e qualquer cadência VI-IV-V-I vira base pra melodias cada vez mais repetitivas e banais.
Os sucessos, os artistas, são tão iguais que fica praticamente impossível dois shows de bandas cover pop terem repertórios diferentes. A essência da música foi perdida nesse turbilhão de interesses e oportunismo. Viramos um país de emissis espalhafatosos, de sertanejos abest’americanizados, de popozudas desafinadas; mas todos perfeitamente ensaiados, rimados e afinados com o novo sistema da indústria do sucesso da ‘Música Pra Pular’.
Tão triste quanto um médico observaria a sua ciência sendo trocada pelo charlatanismo, assim sente-se o músico quando tem que tocar e cantar o atual gosto popular. Na vida, ouvi de Emerson Lake & Palmer a Jackson do Pandeiro, o que me gerou um gosto musical hoje tido como ultrapassado. ‘Hey Joe! para onde você vai fugir agora, onde você vai?’
