Caboclo ficou milionário economizando ração de cachorro, levantando toda madrugada pra latir no quintal… ou ganhando na Mega Sena, não sabemos. Talvez lavando dinheiro, conforme depois investigou mas não comprovou a PF, já que é uma prática mais comum e, de todos os meios que conduzem à abastança, é o mais seguro em todo o mundo.
O fato é que sentindo-se e sendo rico, remobiliou toda a casa e foi numa exposição de artes pra comprar aquele! belo quadro que combinasse com seu jogo de sofás… Arrematou uma tela salgada, um trem abstratíssimo! e pagou na hora.
Ascendeu no artista autor a curiosidade de conhecer seu cliente: “Diga-me, monsieur, o que viu neste meu quadro “O Pôr do Sol” para comprá-lo pelo preço proposto que, aliás, eu acho justo e digno? Com certeza é um admirador do meu traço surreal e introspectivo!” O emergente respondeu assustado: “Pôr do sol??? Pensei que fosse um ovo frito!”. Concluímos que, dificilmente vai à uma bienal de arte alguém que desconheça do assunto.
Não abre um Machado Assis quem não gosta das vírgulas e do estilo minucioso de um Dostoiévski; não liga a TV em dia de domingo quem arruma algo pra fazer; não sorri e diverte-se com Woody Allen quem ri de Debi & Lóide. Mas, na Música, todo o público é potencialmente jurado de reality show e ao mesmo tempo agente opressor da crítica.
Não falta quem diga que os tempos mudaram e que por isso temos uma nova vertente de música-diversão, de letras que refletem os novos tempos, de canções alegres que nos relaxam das tensões do dia a dia. Se a música popular foi por este caminho, em breve teremos pintores expondo emotions gifs , arquitetos assentando tijolo em pé, dançarinos e coreógrafos ensaiando quadrilha junina, escritores compondo em porta de banheiro público, atores ensaiando improviso e atletas treinando cuspe à distância.
É fato que as artes mencionadas não são tão populares… e que a música foi premiada pela futilidade dado seu poder comercial de massa. Faz sentido; um infeliz sentido. Então seria a hora de quem faz música por amor à ela, enfiar a viola no saco e sair saindo, à francesa como os ingleses e pedindo desculpa, com licença, foi engano, pode ficar com o troco. O tempo da beleza musical, seja na melodia, harmonia, poesia, arranjos… passou! Quem não se deu conta foi aquele que mais a ama e entende: absurdamente, os próprios músicos! A realidade agora é outra: “Não me contratem porque eu não tenho no meu repertório os sucessos “prapulares”… tenho vergonha de tocá-los…”. Ou, pior: ouvir o contratante dizer: “Não tem espaço pra você porque preciso trazer o que o povo quer: sertanejo e funk…”
Felizmente ainda nos sobra algum espaço bacana no canto de um bar, uma casa noturna, um hotel fazenda ou uma festa particular que nos queira e tenha público pro nosso estilo, mesmo que pagando menos. E esse é outro paradoxo: quem toca o que tem valor artístico tem o cachê menor.
Porque seu valor hoje é medido pela quantidade de cerveja que o público consome, já que a maioria “Tá namorando a Budweiser”. Castigo divino recebido pela desunião de nossa classe ou herança da maldição de Lucifer, o músico e anjo caído?
