” PAPO DE MÚSICO”…NEM MUITO RISO,NEM MUITA FARINHA

em Cidade/Colunistas por
nilson
Nem muito riso nem muita farinha Renato Teixeira fala muito bem da vontade, da necessidade e do prazer do artista em trabalhar e apresentar sua obra, e assim confirmar a vida usando do talento que em cada um é único; seja limitado ou genial: “- Meu pai chegou aqui num fim de dia, há muito tempo, em cima de um cavalo.
Era pobre e moço e só queria semear de calos as mãos de plantador.” No mesmo poema ainda explica que em peito de artista, seja tocador ou cantador, não faz sentido nem muito riso nem muita farinha! sempre prevalecerá a dor e a fome daquilo que ele busca por necessidade, por vezes mesmo sem consciência do que seja.
A dor do poeta, mesmo quando fingida, é vivida com seriedade; como disse Pessoa. Dor e incômodo de ter na alma mais buracos do que qualquer outro vivente. E o que também leva um escritor russo e famoso por sua tristeza, talvez por ver a coisa russa, a dizer que a fórmula para se escrever bem é sofre, sofrer, sofrer… Hoje todo mundo é mais bonito do que na foto da carteira de identidade, porém não tanto como no Instagram, e ninguém quer saber de sofrimento ou sacrifício. Preza pelo aqui e agora, pratica a Lei de Gérson, diz que o passado passou e que o futuro a Deus pertence.
Concluo que os três artistas citados acima fizeram muito bem em ter morrido ou ainda fa-lo-ão sem falta, como diria um ditador em seu discurso. A diferença entre um artista e um astro pop é um abismo, mas hoje parece invisível ao público.
Ela só pode ser medida na régua da verdade ou na balança do talento, instrumentos em desuso para aferir tais grandezas hoje também de pouca significância. Assim, qualquer pangaré, montado pelo jóquei da mídia, vence Grande Prêmio. Se os poetas e os bons intérpretes de nossa música hoje estão apenas em nossos flashbacks, porque a música “moderna” preza pela falta de compromisso com tudo o que tenha trabalho e beleza, então quem perde somos nós.
Todos nós, menos quem explora a sandice pra encher os bolsos. E os maiores prejudicados serão os músicos, porque não terão público que os reconheçam e os prestigiem como se deve em todos os sentidos profissionais. Apenas os deslumbrados que embarcam na onda do que a moda dita, porque faltam a eles referências e estímulo para apreciar Arte… orientação, apoio e instrução. Gosto não se discute; se aprende. Mas o que tem sido feito pra apoiar o gosto pela Arte neste mundo novo? Existem recursos em todas as esferas administrativas; os shows dos famosos são muito bem pagos, têm boa divulgação e adornam os cartazes das festas. Mas artistas locais, os de menor cachê, sequer têm seus nomes ali, como se isso fosse denegrir o prestígio da balada. Perde-se uma real oportunidade de estimular o público e os artistas mais verdadeiros mesmo que sejam estes crus e simples, que são exatamente aqueles mais próximos. Resta tocar a viola e o barco da vida conforme Deus for permitindo.

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