” PAPO DE MÚSICO”…As Palavras (o filme e a vida)

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O filme “As Palavras”, americano e simples, mas com um conteúdo maravilhoso, daqueles que nos doem a cabeça em reflexões, me fizeram questionar a relação entre Arte e artista, tendo dois lados como pontos de vista: o do personagem e o do ser humano que o interpreta.

O filme fala de um escritor pouco inspirado que plagia um manuscrito encontrado na rua, tamanho é o fascínio do tema e a beleza do estilo do autor desconhecido. Mas depois de publicado e tornado enorme sucesso, ele encontra o autor! e este lhe conta o verdadeiro sentido do texto! Daí então vem a batalha interna que o martiriza. Aquela própria dos que vivem da Arte, e dela sugam toda a seiva que os mantém vivos em seus ideais.

Esse encontro simboliza o belo e sofrido dia em que todos eles têm que decidir o que vai predominar em seu mundo: a ficção ou a realidade. Sim, porque mais cedo ou mais tarde, vai precisar limitar as fantasias para não incomodar seu mundo real, sua família, seu sono, seus hábitos e sua caminhada existencial. É a hora de entender o que existe nela, hora de abandonar o sonambulismo e o romantismo e passar a ser absolutamente honesto consigo mesmo. É o momento em que muitos se perdem, em que muitos famosos se drogam pra suportar o martírio… ou em que desistem dos ideais e estes serão substituídos pelas doenças, pelas neuroses e dúvidas, heranças próprias de quem faz da arte honesta seu meio de vida. Ou ainda simplesmente desiste-se de seguir seu caminho, algo que será totalmente desentendido por seus fãs e seguidores.

Passa despercebido do público, mas o sentimento interior de quem vive da música, no mundo paralelo que desperta (ou tenta despertar) emoções alheias, é a mesma essência dos bastidores que existe em toda e qualquer outra profissão.

O artista é uma versão palhaça que o indivíduo faz de si mesmo. Veste-se dela pra representar, seja para o seu sustento material ou simplesmente pra saciar o ego da alma esburacada que lhe nasceu pra ser artista, criar ou interpretar um pouco além do óbvio da vida. Não adianta insistir que aquilo que cria ou interpreta, sendo de forma rendosa e reconhecida ou improdutiva e ignorada, é o maior valor de sua vida. Não é. Em alguns momentos terá que tomar decisões necessárias, e elas sempre deixarão sequelas, serão eternamente dolorosas. É diferente do imediatismo que diz que o ontem acabou e o amanhã não existe; diferente do famoso estilo de vida viva o hoje porque do mundo nada se leva; diferente do tal entre o certo e o errado escolha o que te faz feliz. Porque levamos sim. Se para um além, não sei. Mas carregaremos até o fim em nossas consciências as consequências dos nossos atos.

Óbvio que cada um terá o seu momento, e isso é pessoal. Mas não seria agora o momento oportuno para refletir se vale a pena continuar a entrega que se exige de quem deseja sobreviver como músico, ou apenas tenta levar sua arte e o resultado de seus estudos a um público? Nesse momento negro em que o mundo fechou os ouvidos para a beleza da música e deixou de lado suas sutilezas, onde o único lema é o entretenimento exigido pela vida estressante?

O público disponível ao sucesso exige apenas diversão, por isso basta a ele qualquer baticum que dê ritmo a um requebrado. Isso, um rato preso dentro de uma caixa de som adaptada, é capaz de proporcionar, sem se exigir dele qualquer veia artística. Enquanto o músico toca e canta, o povo bebe e grita; isso logicamente pela banalização das melodias, das poesias e dos estereótipos de caricatura galante que hoje é a imagem do sucesso.
Este texto, caso alguém o tenha lido, não é um estímulo à desistência, mas também não é nenhum incentivo. Na verdade, é um convite mais profundo à reflexão. Porque o estado besteirol atual da nossa música popular prejudica principal e diretamente ao próprio músico e não o motiva a fazer uma música honesta.

Por Nilson Teodorico

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