COLUNA “TEMPO E PALAVRA” : NATAL

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Antônio Carlos de Albuquerque

A criatura humana tem necessidade de viver e de amar. Esses dois impulsos formam a base do mundo moral. A doutrina cristã aparece como um paradoxo no meio do mundo porque ela transfigurou o mendigo, divinizou seus sofrimentos. O paradoxo do Mestre repercutiu no tempo e no espaço como resultado da moral inefável transmitida na doçura de Sua linguagem e do Seu exemplo, chegando à loucura sublime de recomendar: “se queres ser perfeito, vai, vende quanto tens, dá-o aos pobres e segue-me”.

O que hoje escrevo vem a ser o espelho de um sentimento que vive em mim. As paixões e loucuras dos homens continuam as mesmas e a necessidade do Cristo acompanha a humanidade.

Que dizer do Império Romano? Escreveu Plínio Salgado: “É o espírito de uma política que fulgura na ponta de suas espadas. Na aristocracia Imperial morre outra humanidade – a humanidade do Espírito”. O embrutecimento geral dos costumes, de fato, revelará que alguma coisa morreu dentro deles.

A longínqua Judéia era governada por um estrangeiro – Herodes. Um decreto de Augusto determinou o recenseamento do império obrigando o carpinteiro a caminhar com a esposa grávida de Nazaré a Belém. No campo, os pastores proibidos de frequentar a Sinagoga, desprezados pelos rabinos, das montanhas vigiavam os animais do templo. Havia uma gruta aberta na face da montanha, com uma manjedoura, onde o gado comia o feno. Neste local, como previram as profecias, a sinfonia celestial anunciou o cântico: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. Os pastores marcharam e atentaram para o clarão de uma fogueira na porta da gruta. Encontraram um homem e uma mulher e um recém-nascido envolto em panos. Creram no que tinham ouvido e visto como lhes fora anunciado. Coube-lhes comunicar a respeito do que viram e ouviram. A partir daí, a história se bipartiu: antes e depois de Jesus.

O cristianismo é a forma histórica que o movimento de Jesus assumiu.

A atual sociedade entrelaça-se com a cultura pós-moderna numa rede perigosa. O sonho de um mundo de paz na construção de uma nova vida permanece com fincas no espírito de comunhão, de participação e solidariedade no interior dos homens.

Na casa de minha mãe, em Carandaí, à Rua Presidente Vargas 341, sempre existiu uma figueira que ela plantou. Em dezembro ela preparava os doces de figo. Não só distribuía a fruta que sobrava no pé como enviava nos potes de vidro uma prova do seu

produto aos amigos e amigas, com prazer e na gratuidade. A figueira foi a permanente árvore de Natal dela no decorrer de todos os dias do ano. Restou-me o amor que ficou revelado na saudade dela e do seu doce de figo! Na sala, era sempre preparado o presépio. Agora, eu sei: a cena do presépio exige repetição. Um hino triunfante daquele tempo ainda ressoa em mim: “Adeste Fideles” (Venha aqui os fiéis).

Dentro de nós há um presépio. Na manjedoura dorme uma criança. O nome dela é o nosso.

FELIZ NATAL para todos nós.

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