COLUNA ” TEMPO E PALAVRA” : À SOMBRA DA HISTÓRIA

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À SOMBRA DA HISTÓRIA

Antonio Carlos de Albuquerque

As memórias de Benedito Valadares (1892/1973) – in “Tempos idos e vividos” apontam significativos indicadores para a análise do conceito do político no Brasil. No último capítulo, o memorialista escreveu: “No Planalto Central, sem o canto amenizador dos pássaros, ouvindo o vento uivante, fecho as janelas e repito com o poeta: o resto é silêncio.”

Qual experiência o mineiro Valadares acumulou que não valeria a pena explicitá-la? Trata-se de uma interrogação a ser ainda decifrada.

Somente a partir de 90, o empresariado nacional verificou que houve o surgimento de novo paradigma na produção industrial, denominado pós-fordista. Essa reestruturação do capital buscando inovações organizacionais e tecnológicas – se dá num processo de aumento da competição empresarial voltado para um mercado cada vez mais segmentado, gerando dilemas sérios na sociedade do trabalho e o desemprego estrutural.

A elite política não compreendeu essa mudança. Foi míope e desinteressada. A impressão é que o país nunca experimentou os sentimentos de decadência como os outros. No plano político, houve uma metamorfose nas ideologias conservadoras acreditando-se em força de um outro deus de visão paradoxal: modernização-conservadora e desenvolvimentista. O que se vem assistindo na realidade política brasileira nos últimos dezoito anos – as materialidades são visíveis – não foi o aparecimento de liderança política estruturada com base em um projeto novo de reformas. Salta à luz dos olhos a manutenção de um processo de hostilidade permanente sobre a ideologia de modernização e a democracia. Paralelamente, a degradação dos valores e virtude republicana. Ou seja, tudo acaba no maquiavelismo puro no qual os fins justificam os meios. Vai-se então estabelecendo um tipo de burocracia pós-stalinista mantendo

seus privilégios, enquanto a Nação brasileira enfrenta todo tipo de obstáculos.

De forma soberana, a decisão de se aprofundar no conhecimento da realidade pertence ao Estado como unidade essencialmente política e deve fazê-lo para bem de todos. Mas não o fez, pois a articulação da base parlamentar é desagregada dos objetivos nacionais e dos direitos individuais fundamentais previstos na Constituição Federal.

De qual realidade Valadares, como hábil político, teria nos escondido na sua biografia quando escreveu: o resto é silêncio?

Não concebo começar o Brasil do zero. Mas como suportar a destruição de todas as esperanças não realizando inclusive o que é possível? Haverá de se seguir na luta, que é prolongada, para se resguardar a certeza da construção da democracia política, social e econômica.

Nunca esteve tão apropriado o aforismo: o preço da liberdade é a eterna vigilância

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