” PAPO DE MÚSICO”… O Lixo é o nosso Luxo descartado

em Cidade/Colunistas por

nilson

Afirmar que a vida é curta, que passa depressa, e por isso temos que aproveitar dela cada minuto, é uma filosofia mais confortável do que admitir que ‘não somos escravos de nossos instintos e sim de nossas escolhas’, como disse o genial Domingos de Oliveira. No mundo imediatista escolhe-se, ‘entre o certo e o errado, aquilo o que dá prazer’. O hedonismo, onde o prazer é defendido como o bem supremo, torna-se a finalidade e o fundamento da vida. Viver bem seria: trabalhar pouco, ganhar muito, estar e ser sempre bonito e tranquilo, pensar pouco, comer muito e beber sem limites… Perseguindo este ideal impossível vivemos aos atropelos num mundo onde a tecnologia tem muito a nos oferecer, mas nosso cérebro diante de tanto conforto está atrofiando. Exemplo: a Arte em forma de música, cinema, esportes, etc e tal, já não falam a língua da cultura. A própria Educação enfia os pés pelas mãos e não ensina o pensamento e a reflexão, o que deveria ser seu papel.

Não estimula a verdadeira busca do saber; nossa intelectualidade recém-formada nas universidades de hoje é vaga e distante – basta conferir o baixo nível cultural de nossos jovens, onde deveriam estar incluídos boas maneiras, espiritualidade, respeito, conhecimento e pensamento crítico. O estilo musical ‘sertanejo universitário’, movimento que nasceu com forte personalidade, por uma realidade emergente, caiu hoje na mais profunda alienação. Sua temática é um perfeito exemplo do prazer imediatista e do desapego ao raciocínio; até porque não é sertanejo nem tão pouco universitário, e seu rótulo elitizado isenta assim de qualquer responsabilidade quem ouve a mesmice disfarçada de música.

A vida é longa, é suficiente, nela temos muitas oportunidades, tempo pra fazer e desfazer, aprender em erros e acertos. É curta pra quem liga o rádio e ouve qualquer coisa, liga a TV e assiste qualquer novela, vai ao cinema por sucesso de público, lê qualquer autor, engole qualquer noticiário… e assim perde oportunidade de fazer suas escolhas, nascendo torto e morrendo torto, desdenhando sua capacidade intelectual. Caminhar sobre ‘o fio da navalha’ é o grande desafio, até chegar o dia em que, por desistência, cansaço ou fim dos acréscimos e do tempo regulamentar, daremos baixa na certidão de nascimento e sairemos de cena. Então por que não buscar a beleza da Arte como forma de sublimar a dor, a felicidade, o amor? enfim, todas as emoções, riquezas e misérias humanas? É de graça! Mas a resposta é muito simples: falta incentivo, opinião, medo de não ser aceito por uma sociedade que estabeleceu um padrão de baixo nível, e assim preferir o gozo do banal ao êxtase do belo, apenas porque este último dá trabalho. Com isso, nossa música popular virou um lixo. E nosso lixo nada mais é do que o que sobrou e foi descartado do luxo consumido.

2 Comments

  1. A vida carece de pessoas que valorizam a palavra e a utiliza para tocar mentes e emoções. Obrigada pelos artigos a cada semana! Estilo cativante: simples e ao mesmo tempo excelso. Muita concisão e clareza; e o mais importante: nos faz pensar e refletir bem!

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