COLUNA ” PAPO DE MÚSICO”….. AUTOMATICAMENTE

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nilson

Fim de semana, música vai música vem, papo de música de pai pra filho e vice-versa, pedi a ele que me sugerisse um tema de crônica. Ficou de pensar. Providencialmente, enquanto fechava o portão, parou próximo um carro rerebaixado, com faróis que desafiavam o sol forte e vidros “negros como as asas da graúna”, do qual vazava uma espécie de mantra que dizia “vai tremendo a bunda/ bum bum bunda!”, ameaçando bambear todos os parafusos de seu motor, chassis e carroceria… e ainda os alicerces do meu barraco.

Não contive a oportunidade de talvez conhecer um possível primo antepassado Homo Neanderthalensis, alguma espécie feliz que tenha dado certo de Homo Non Sapiens ou quem sabe uma aberração misto de besta fera fugida de um laboratório de genética experimental. Foi quando meu herdeiro poupou-me do trabalho e explicou-me que se tratava de um “jovem” curtindo um sucesso atual chamado “Automaticamente”. “Automaticamente!? Sim, Automaticamente!” Automaticamente caiu a ficha: lembrei-me de que vivemos no prático automático, sem o desgaste do pensar e desistidos da existência na forma mais plena. Estava dado o tema e pronta a inspiração! faltava a transpiração.
Se hoje essa junção de elementos sonoros é tida como música, é porque os tempos são outros e o meu tempo de apreciar e fazer música passou. Os conceitos mudaram; os critérios e gostos sofreram uma reforma… mas uma reforma às avessas, degradante, riqueza que empobreceu, beleza que murchou, fogo que virou fumaça, tipo o rabo de burro que cresce pra baixo.
Ao músico que quer e/ou precisa sobreviver, resta aceitar ou deitar na BR; bater palma pra maluco dançar ou tocar pra meia dúzia de sobreviventes ou extra terrestres. Muitos estão tristes com isso, mas o músico é a maior vítima; os novos tempos fez de sua arte um lixo composto de poesia pobre, harmonia banal, canto sem técnica e timbres sem brilho e capricho.

Se isso agrada ao gosto coletivo, então errado está quem contesta e não admite que a Música seja submetida e humilhada a tanto e agora sirva apenas pra entreter a massa. Silvio Brito já implorou e deixou o crédito pro Raul na famosa “Pare o mundo que eu quero descer”; isso numa época em que eu era feliz e não sabia. Sem dúvida, a ignorância é uma benção pra quem não contesta, aceita e não vê o ridículo que é a marca registrada e o carimbo de inspeção final aprovador da insanidade dos sucessos atuais.

Hoje os nossos grandes maestros e produtores resumem-se em Reprodutores e avalistas de uma safra cada vez pior e banal de ídolos e bandas mensageiros do apocalipse da Arte. O automático está ligado e quem ousa ativar o manual e usar o cérebro para criar, compor, interpretar e ouvir música de verdade, corre o risco de ser multado pelos representantes da Lei do menor esforço, talvez já até afiliada à OMB.

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