COLUNA ” TEMPO E PALAVRA” DO SERMÃO DO BOM LADRÃO À REPÚBLICA DOS TOLOS

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Antonio Carlos de Albuquerque

Relembrei-me, nos últimos dias, de padre-mestre Correia de Almeida (1820-1905), poeta satírico, barbacenense de escol. Com uma obra total escrita em 23 volumes. Não me esqueci de Vieira, em os Sermões. Do primeiro, é revigorante relembrar a República dos Tolos (1881). Do segundo, o relevante Sermão do Bom Ladrão, proferido em 1655, em Lisboa, perante D. João IV e a corte do reino português. A ambos, o agradecimento pela ajuda que nos empresta hoje e que não sabemos se um dia o receberam solenemente.

Muitos de nós vivemos e reconhecemos o contexto de visões castradoras, criadas por outros tantos e inúmeros nos campos da economia e da política. Claro, os resultados não poderão ser os mais justos para a sociedade. Pois, se cabem discussões mais expandidas em torno desses setores, elas não foram realizadas. Os que vivem à margem da realidade, na região das sombras, nunca revelarão o que é o verdadeiro. A verdade não será exibida.

Anos antes da proclamação da República (1889) não houve um mineiro tão distinto como aquele de Barbacena, padre-mestre Correia de Almeida. Não atuou como um jacobino. Enfrentou o combate das contradições políticas do seu tempo na comicidade e na sátira. Ao final, atribuiu a essa atitude a sua longevidade. A sua literatura permite avaliar o nosso passado político oitocentista e é fundamental para compreender o futuro que se nos aguarda sob o pálio republicano. Se a semeadura foi abundante no país, a colheita está sendo magérrima. Insuficiente. Ridícula. Um produto interno (PIB) igual a zero, contrapondo a uma população de 220 milhões de pessoas. Uma fábrica de produzir pobres.

Padre Vieira, jesuíta, que trabalhou e viveu no Brasil colônia, no Maranhão, pelos conteúdos e antíteses de seus sermões, tornou-se um sacerdote-estadista. O seu estilo barroco, como o de Gregório Matos, poeta baiano, nos permite reconfortar o espírito e por fim à discussão da corrupção que, em nosso país, é volumosa nos últimos tempos, ao ponto de se admiti-la como uma categoria de pensamento para o continuísmo. Na Igreja da Misericórdia, em Lisboa, proferindo o sermão do Bom Ladrão, (1655) Vieira pontificou: “… Em qualquer parte do mundo se pode verificar o que Isaías diz dos príncipes de Jerusalém: – os teus príncipes são companheiros dos ladrões. E por que?… porque dissimulam, porque os consentem, porque lhes dão os postos e poderes, porque talvez os defendam…”

Das idiotices aos bons ladrões, os paradoxos continuam nos fatos persistentes em nossa marcha. E as possibilidades? Vão ficando para depois. Até lá, até chegar o momento da superação, quanto esforço sem criação, quanto tempo perdido! Certamente, em tudo, o caro leitor está atento, porque não é cego.

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