COLUNA ” O TEMPO E A VIDA”… CLARA NUNES – Um sentido para outros começos

em Cidade/Destaques por

CLARA NUNES – Um sentido para outros começos

Antonio Carlos de Albuquerque

No dia doze de agosto de 1942, em Caetanópolis, bucólica cidade de Minas, nascia Clara Nunes. Pelo seu nascimento, surgia uma nova criatura no mundo. Foi acolhida. Trabalhou. E se distinguiu. Morreu no início da vida adulta, ainda cheia de sonhos. Seus restos mortais repousam no Rio de Janeiro, no Cemitério São João Batista, desde 1983.

As letras cantadas pela moça jovem, operária das fábricas de tecidos Cedro e Cachoeira e da Renascença, exaltaram a sua arte singular.

O Canto das Três Raças (1974) começa assim: “Ninguém ouviu um soluçar de dor no canto do Brasil”, anunciando até hoje uma advertência para o país. Termina com os seguintes versos: “Esse canto que devia ser um canto de alegria soa apenas como um soluçar de dor”.

Nada há de melhor para homenagear a tecelã de Minas – Clara Francisca Gonçalves e, também Clara Nunes – a cantora, do que a busca de sua doce recordação no tempo do agora. Clara Nunes metamorfoseou-se na invenção brasileira: o samba, sendo mais do que um entretenimento. Pelos sonhos, começamos a “desflorar as florestas virgens” (Cântico Negro, José Régio), trazendo a pedra nos ombros para a construção da nossa trincheira. No movimento dos nossos passos, no batuque que não permite o silenciar da vida, enunciam-se os sofrimentos, apontam-se realidades sociais, sugerem-se saídas e soluções dessa lida para os caminhos nos descaminhos do poder público.

Sem os sonhos permanecemos sentados. Não surgem as ruas. Nem o encanto da coisa pública. E é por isso que nos movimentamos de diversos modos.

Clara Nunes teve o sonho de sambista que se fez ouvir pela sua arte. Está aí um manancial rico para o aprendizado da nossa gente nas palavras ritmadas e plenas dos valores essenciais. Quem sabe o ritmo do Brasil não virá como num samba para fazer pulsar a nossa vida, dar sentido a outros começos, reafirmando uma certeza de luta permanente por dignidade, ética e justiça no contexto de uma realidade sócio-política marcadamente cheia de paradoxos e riscada pela descrença nos atuais porta-vozes!

Como exercitar a cidadania, caminhar livremente pelas ruas e de se fazer parte delas? É dessa aposta dançante que a gente nossa precisa, eu necessito, meus netos esperam, seguindo os rastros, as pegadas de compatriotas que soluçam dores, têm sonhos para suas vidas e querem bem verdadeiramente ao nosso novo mundo, pátria amada, Brasil.

Já é hora de passar a ouvir o soluçar de dor no canto do Brasil. A mineira Clara, na sua trajetória curta diante da majestade da morte, já havia denunciado esse silêncio

CLIQUE AQUI E CURTA NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

*